Os mandamentos de Deus e a Salvação

Seguir tais mandamentos é expressão da fé e do amor ao Nosso Senhor Jesus Cristo, bem como ao próximo. Eles significam o cuidado de Deus com seus filhos. Deus não impõe os mandamentos na vida do cristão, Ele nos mostra os caminhos que levam a salvação.

Por Genival Carvalho

07/11/2022

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Fonte: Erasmo Araujo - Adora Comunicação Católica

Caríssimos irmãos e irmãs, a partir da reflexão desse tema pretende-se ressaltar algo essencial que vai além de, simplesmente, olharmos os mandamentos de Deus como regras ou exigências a serem seguidas.  Seguir tais mandamentos é expressão da fé e do amor ao Nosso Senhor Jesus Cristo, bem como ao próximo. Eles significam o cuidado de Deus com seus filhos. Deus não impõe os mandamentos na vida do cristão, Ele nos mostra os caminhos que levam a salvação.

Abraçar os mandamentos é uma prova do amor e da fé a Deus, ao Nosso Senhor Jesus Cristo, que demonstrou seu amor por todos nós. Ao observarmos todos os mandamentos, presente no livro de Êxodo 20,3-17, como: amar a Deus sobre todas as coisas, não pronunciar em vão o nome de Deus, ou seja, não utilizar o nome de Deus para justificar injustiças ou para seu bem pessoal, lembrar-se do sétimo dia para guardá-lo, santificá-lo – fazendo referência ao sétimo dia que Deus descansou ao criar todas as coisas – honrar pai e mãe, não matar, não cometer adultério, não roubar, não dar falso testemunho contra seu próximo e não cobiçar as coisas alheias , nem a mulher do próximo, perceber-se que podemos resumi-los em dois, não menosprezando a essência e o significado que cada mandamento carrega, a saber: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Assim, como nos diz Nosso Senhor Jesus Cristo em Mateus 22,34-40, “toda a lei e os profetas dependem desses dois mandamentos”, que são: o primeiro, “Ame ao Senhor seu Deus de todo o seu coração, com toda a sua alma e com todo o seu entendimento”, após proferir isso, Jesus diz: “Esse é o maior e o primeiro mandamento”. E o segundo, “Ame ao seu próximo como a si mesmo”. Essa foi à resposta de Jesus aos fariseus quando tentado por um deles sobre a seguinte questão: qual é o maior mandamento da lei? Em seu ensinamento, Jesus deixa bem claro a resposta como percebe-se acima.

Observa-se que o verbo amar fica explícito e evidente nas palavras ditas por Jesus. Com isso, para deixarmos de olhar os mandamentos como regras ou exigências é preciso ir mais além, com o coração voltado para Cristo, deve-se realizá-los como valores, como expressão da fé e do amor aquele que é digno de todo louvor, Jesus Cristo. Como nos diz Frei Gilson (Sacerdote e membro da Congregação Carmelitas Mensageiras do Espírito Santo): “seguir os mandamentos de Deus é viver a lei do amor”.

Os mandamentos de Deus são caminhos que nos levam ao próprio Deus. Seguindo-os de coração e procurando a cada dia sermos bons cristãos, ou seja, pessoas melhores que acrescentam algo na vida do outro a partir de uma simples e amorosa ação, nós nos colocamos no caminho que nos leva ao Senhor. Sendo assim, alcançar a salvação por meio dos mandamentos, que é a palavra de Deus, é o resultado do amor profundo a Deus e ao próximo.  E a palavra sagrada nos diz: “quem acreditar e for batizado será salvo” (Mc 16,16).

 A salvação nos é concedida por consequência de um caminho em Cristo e por Cristo. E, sobretudo, da fé em Cristo. Deste modo, a vivência dos mandamentos está intimamente em consonância com a salvação. Trata-se de vivenciar o amor a Deus e ao próximo por esse ato de amor em si mesmo e não por uma ação desprovida de tal amor, simplesmente, com a finalidade de receber uma recompensa. E, também, por confiar na palavra de Deus, essa é a essência dos mandamentos. Sendo assim, o tema em questão – Os Mandamentos de Deus e a Salvação – tem um significado muitíssimo relevante para contemplarmos, meditar e vivenciarmos em nossa vida, tendo-os sempre como uma busca do seguimento do amor que é Deus.

Como foi dito, a busca contínua de realizar os mandamentos vai além de meramente seguir uma simples lei. Ao contrário, trata-se de seguir o chamado de Deus, de realizar a sua vontade, de estarmos aberto a sua palavra, que nos leva a um propósito maior, ou seja, significa ouvi-lo e realizar a sua vontade. E isso se realiza, além do nosso coração aberto ao senhor, no âmbito de nossa consciência moral como afirma o catecismo da Igreja Católica:

Presente no coração da pessoa, a consciência moral lhe impõe, no momento oportuno, fazer o bem e evitar o mal. Julga, portanto, as escolhas concretas, aprovando as boas e denunciando as más. Atesta a autoridade da verdade referente ao Bem supremo, de quem a pessoa humana recebe a atração e acolhe os mandamentos. Quando escuta a consciência moral, o homem prudente pode ouvir a Deus, que fala”. (Catecismo, 1778)

Praticar os mandamentos trata-se de ouvir a Deus, que fala em nosso coração. É evitar o mal que destrói, divide, semeia a dor e o sofrimento para fazer o bem, isto é, significa espalhar amor e luz em um mundo sedento por Deus. Para alcançarmos essa consciência moral que ouve e acolhe os ensinamentos divinos é preciso voltar-se para Deus na força da oração e pela fé. Bem como pedir-lhe que sempre nos conceda a graça de superarmos as nossas fraquezas e que a luz do Espírito Santo esteja sempre sobre nós, mesmo nos momentos em que nós nos afastamos da vivência do bem. Deixar de seguir os mandamentos é uma desobediência e falta de confiança na bondade de Deus. Como ressalta o Catecismo da Igreja:

O homem, tentado pelo diabo, deixou morrer em seu coração a confiança em seu criador e, abusando de sua liberdade, desobedeceu ao mandamento de Deus. Foi nisto que consistiu o primeiro pecado do homem. Todo pecado, daí em diante, será uma desobediência a Deus e uma falta de confiança em sua bondade. (Catecismo, 396)

Ao entrar num processo de conversão, prontificar-se a seguir os mandamentos de Deus não significa que sempre iremos realizá-los na sua integridade, como cristãos verdadeiros, iremos sempre tentar superar nossa fraqueza, nossos limites, uma vez que, eles fazem partem da nossa humanidade. A nossa dimensão humana ressalta nossa preciosa existência no mundo mesmo com seus limites, existência essa – o dom da vida – que Deus nos concedeu.  Como disse o Papa Francisco na Audiência Geral em 13 de Junho de 2018: 

“Como é bom ser homens e mulheres! Como é preciosa a nossa existência! E, no entanto, existe uma verdade que na história dos últimos séculos o homem rejeitou frequentemente, com consequências trágicas: a verdade dos seus limites”.

Ao reconhecermos nossos limites – “a verdade de nossos limites” – não significa que não somos dignos da graça da presença de Deus, ao contrário, é humano e Divino tal reconhecimento, pois nos colocamos na posição de um ser humano imperfeito, que reconhece sua pequenez, e que busca a perfeição. Assim, significa reconhecer que há um Deus que está acima de tudo e de todos. A busca da prática dos mandamentos e do caminho da santidade trata-se de um percurso longo, muitas vezes árduo, que se dá num processo contínuo no qual em tal processo a oração, esse diálogo íntimo com Cristo, é essencial.

Nos mandamentos, Deus fala conosco e demonstra seu cuidado com cada um de nós. Ao nos revelar os mandamentos, Ele pronuncia palavras de amor, de um Deus que cuida de seus filhos, orienta-nos pelo caminho que nos leva aos seus braços. Segundo o Papa Francisco na Audiência Geral na Praça São Pedro em 20 de junho de 2018, “Uma coisa é receber uma ordem, outra coisa é sentir que alguém procura falar conosco”. Deus fala aos nossos corações e nos mostra o caminho a seguir para que nele tenhamos vida plena. E mais adiante, o Papa Francisco continua sua reflexão com alguns questionamentos que considero fundamental, ele diz:

O homem está diante desta encruzilhada: Deus impõe-me as coisas, ou cuida de mim? Os seus mandamentos são apenas uma lei, ou contêm uma palavra, para cuidar de mim? Deus é patrão ou Pai? Deus é Pai: nunca vos esqueçais disto! Até nas situações mais negativas, pensai que temos um Pai que ama todos nós. Somos vassalos ou filhos? Este combate, dentro e fora de nós, apresenta-se continuamente: temos que escolher muitas vezes entre uma mentalidade de escravos e uma mentalidade de filhos. A ordem é do patrão, a palavra é do Pai.

É necessário, a partir dos questionamentos ressaltados acima pelo Papa Francisco, reconhecer que mesmo com nossas limitações e falhas, somos filhos e filhas de Deus, o qual nos concede a graça para superá-las. Os mandamentos não são as ordens de um patrão, são as palavras do Pai. Segundo ressalta o Papa Francisco, “Deus é Pai: nunca vos esqueçais disto!”.  E Deus sendo pai ama cada um de nós. Assim, Bem Aventurados são aqueles que descobrem e se prontificam a se aproximarem desse amor que vem de Deus, um amor perfeito, insondável e sublime. 

Com relação à salvação da humanidade podemos vê-la como uma ação de libertação da sua vida de pecado e do seu próprio ego. Salvar-se então se torna também uma expressão de amor não somente a si mesmo, mas também ao próximo, que significa uma descentralização do olhar, deixar de olhar somente para dentro de si para voltá-lo também aqueles que estão ao seu redor. Nessa perspectiva, o outro se põe diante de nós não como uma simples coisa, mas como meu próximo, como meu irmão. Isso no leva a deixarmos de fazer menos a nossa vontade egocêntrica para realizar o que a palavra, os mandamentos nos orientam. Trata-se de uma busca contínua no caminho da fé e na força da oração. A fé é um elemento essencial para a Salvação, como diz Paulo na carta aos Romanos: “se você confessa com sua boca que Jesus é o Senhor, e acredita com seu coração que Deus ressuscitou dos mortos, você será salvo”. (Rm 10,9-10)

Enfim, ao reconhecer Deus como pai, um pai que sempre nos ama, que ele nos conceda a força de seguir seus mandamentos, sua palavra e sempre sejamos testemunho de tão grande amor. Como nos diz nosso Senhor: “que a luz de vocês brilhe diante dos homens, para que eles vejam as boas obras que vocês fazem, e louvem o Pai de vocês que está no céu” (Mt 5,16). Que a nossa vivência como discípulos de Cristo, primeiramente, transforme nossa vida, nos faça uma nova pessoa e que outras pessoas descubram, a partir de nosso testemunho, a presença e a ação de Deus no mundo.

Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo esteja sempre conosco.

Referências Bibliográficas

AZEVEDO. Gilson da Silva Pupo. Frei Gilson – Som do Monte. Resumo dos mandamentos | (Mt 22,34-40) – Meditação da Palavra de Deus. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=S7mqOpMaBVU. Acessado em: 06 de Janeiro de 2022.

Bíblia Sagrada: Edição Pastoral. São Paulo: Paulus, 1990.

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. Edição Típica Vaticana. Edições Loyola. São Paulo, 2000.

Papa Francisco. AUDIÊNCIA GERAL. Praça São Pedro – 20 de junho de 2018. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2018/documents/papa-francesco_20180620_udienza-generale.html. Acessado em 06/01/2022.

Papa Francisco. AUDIÊNCIA GERAL. Praça São Pedro – 13 de junho de 2018. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2018/documents/papa-francesco_20180613_udienza-generale.html. Acessado em 06/01/2022.