Entendendo a instituição do dia de Corpus Christi

Estamos em maio, um mês marcado por eventos importantes para a Igreja e o cristianismo. Hoje, vamos abordar um dia especial que não é Pentecostes — apesar de sua grande relevância para os cristãos. Vamos falar sobre o dia de Corpus Christi, uma ocasião dedicada à memória do Corpo de Cristo. Mas você já se perguntou como esse dia foi instituído? Se não, continue lendo para descobrir!

Por Fábio Henrique

29/05/2024

Imagem/Reprodução internet

A partir do segundo milênio, no entanto, um movimento eucarístico teve início, centrado na Abadia de Cornillon, fundada em 1124 pelo Bispo Albero em Liège, na Bélgica. Nesse período, surgiram diversos costumes eucarísticos, como a exposição e bênção do Santíssimo Sacramento, o uso dos sinos durante a elevação na Missa e, consequentemente, a instituição da festa de Corpus Christi.

 

 Solenidade de Corpus Christi.

A Solenidade em honra ao Corpo do Senhor, conhecida como “Corpus Christi“, é celebrada na quinta-feira após a oitava de Pentecostes, logo após a celebração da Santíssima Trindade. Esta festa foi oficialmente instituída em 1264 pelo Papa Urbano IV.

Como sabemos, Deus costuma se revelar aos humildes e pequenos, e Ele escolheu uma simples jovem para revelar a festa de Corpus Christi. Segundo os registros da Igreja, Santa Juliana de Cornillon recebeu, em 1258, uma revelação particular de Jesus, solicitando a introdução da Festa de Corpus Domini no Calendário Litúrgico da Igreja.

Santa Juliana nasceu em 1191 nos arredores de Liège, na Bélgica. Esta localidade, conhecida na época como um “cenário eucarístico”, era notável por abrigar grupos de mulheres dedicadas com fervor ao culto eucarístico e à comunhão fervorosa.

Tendo ficado órfã aos cinco anos, Juliana e sua irmã Inês foram confiadas aos cuidados das monjas agostinianas do convento-leprosário de Mont Cornillon. Juliana, que também se tornou monja agostiniana, possuía uma profunda presença de Cristo em sua vida e vivia intensamente o Sacramento da Eucaristia.

 

Começo da festa

Aos 16 anos, Juliana teve uma visão: viu a lua em seu esplendor total, atravessada por uma faixa escura. Ela interpretou que a lua representava a vida da Igreja na terra, enquanto a linha opaca simbolizava a ausência de uma festa litúrgica dedicada à adoração da Eucaristia. Essa celebração seria uma oportunidade para fortalecer a fé, promover a prática das virtudes e reparar as ofensas ao Santíssimo Sacramento.

Durante cerca de 20 anos, Juliana, que se tornara priora do convento, manteve em segredo essa revelação. Mais tarde, compartilhou o segredo com duas fervorosas adoradoras da Eucaristia: Eva e Isabel. Juliana também confiou a mensagem a Dom Roberto de Thorete, bispo de Liège, e a Jacques Pantaleón, que posteriormente se tornou o Papa Urbano IV. Elas buscaram envolver um sacerdote muito estimado, João de Lausanne, pedindo-lhe que consultasse teólogos e eclesiásticos sobre a importância da mensagem que elas acreditavam ter recebido.

Foi precisamente o Bispo de Liège, Dom Roberto de Thorete, que, após hesitações iniciais, aceitou a proposta de Juliana e suas companheiras. Ele instituiu pela primeira vez a solenidade de Corpus Christi em sua diocese, especificamente na paróquia de Sainte Martin. Posteriormente, outros bispos seguiram seu exemplo, estabelecendo a mesma festa nos territórios sob seus cuidados pastorais. Eventualmente, a celebração se tornou uma festa nacional na Bélgica.

 

Festa de Corpus Christi

A festa continuou a crescer, com outros bispos adotando-a em suas dioceses. Seu alcance se expandiu ao ponto de se tornar não apenas uma celebração na Bélgica, mas em todo o mundo. No entanto, a festa mundial de Corpus Christi só foi oficialmente decretada em 1264, seis anos após o falecimento de Santa Juliana, em 1258, aos 66 anos.

Durante seus últimos momentos, na cela onde repousava, o Santíssimo Sacramento foi exposto. Segundo seu biógrafo, Juliana faleceu enquanto contemplava Jesus Eucarístico com um ímpeto de amor, pois sempre o amou, honrou e adorou.

Santa Juliana de Mont Cornillon foi canonizada pelo Papa Clemente VIII em 1599. No entanto, ela partiu sem testemunhar a expansão da procissão de Corpus Christi pelo mundo.

 

Milagre de Bolsena 

Após a morte do Papa Alexandre IV, o cardeal Jacques Pantaleão foi eleito como o novo Papa. Nessa época, a corte papal estava em Orvieto, ao norte de Roma. Próximo a Orvieto fica a cidade de Bolsena, onde ocorreu o famoso milagre de Bolsena em 1264.

O que constitui esse milagre? Durante uma viagem da cidade de Praga a Roma, um padre da Boêmia, Alemanha, que tinha dúvidas sobre a transubstanciação, testemunhou um milagre. Ao celebrar a Santa Missa na tumba de Santa Cristina, na cidade de Bolsena, Itália, no momento da consagração, ele viu sangue escorrer da Hóstia Consagrada, banhando o corporal, os linhos litúrgicos e até a pedra do altar.

Surpreendido pelo que presenciou, o sacerdote correu até a cidade de Orvieto, onde o Papa Urbano IV residia, para relatar o ocorrido. O Papa enviou o Bispo Giacomo a Bolsena para confirmar o milagre e trazer de volta o linho ensanguentado. Em 19 de junho de 1264, a venerada relíquia foi levada em procissão até Orvieto. O Papa foi ao encontro do Bispo na Ponte do Rio Claro, atualmente conhecida como Ponte do Sol, onde recebeu as relíquias e as apresentou à população da cidade.

 

Começo da celebração mundial 

Inspirado pelas visões de Santa Juliana, pelo milagre eucarístico de Bolsena e pela petição de vários bispos, o Santo Padre decretou que a festa de Corpus Christi fosse celebrada em toda a Igreja por meio da bula “Transiturus de hoc mundo“, emitida em 11 de agosto de 1264. Esses acontecimentos foram fundamentais para a instituição da festa de Corpus Christi.

O falecimento do Papa Urbano IV, em 2 de outubro de 1264, pouco após a publicação do decreto, inicialmente prejudicou a disseminação da festa. No entanto, o Papa Clemente V assumiu a causa e, durante o Concílio Geral de Viena em 1311, reiterou a importância da celebração. Em 1317, uma recompilação das leis foi promulgada por João XXII, estendendo assim a festa por toda a Igreja.

Dessa forma, a festa de Corpus Christi se consolidou, tendo como testemunhas os eventos significativos das visões de Santa Juliana e do milagre eucarístico de Bolsena.